Outubro se tornou sinônimo de conscientização sobre o câncer de mama. Todos os anos, milhares de pessoas se mobilizam para discutir a importância da prevenção. Neste ano, decidimos abordar esse tema de forma especial: pelo olhar de uma paciente oncológica, destacando como sua rede de apoio foi crucial ao longo da jornada de tratamento.
Com essa história, nosso objetivo é reforçar a importância dessas redes de suporte e inspirar mais pessoas a reconhecerem o impacto que elas têm na vida dos pacientes. Desde familiares até os profissionais de saúde, o apoio dedicado pode ser uma verdadeira fortaleza para quem enfrenta o câncer.
A seguir, veja o depoimento de Elisangela Guimarães sobre sua experiência.
Carta aberta à rede de apoio ao paciente diagnosticado com câncer de mama – Por Elisangela Guimarães
O ano era 2022. Eu tinha 49 anos e, como de costume, estava fazendo meu autoexame das mamas. Foi então que senti algo diferente, um pequeno nódulo na mama esquerda. Ao passar os dedos sobre ele, senti um arrepio. Era como se o meu coração estivesse me avisando que algo ali não estava certo. Eu já havia feito exames de rotina antes, pois sempre tive medo do câncer. Minha mãe e minha tia materna haviam passado por isso, e por isso sempre procurei me cuidar. Mas essa célula foi traiçoeira. Nos exames de rotina, apareceu como um cisto, e por ser tão pequeno, não havia como drená-lo. Apesar disso, durante a consulta com o primeiro médico que procurei, eu disse que estava incomodada e que algo não estava certo.
Voltei ao consultório desse médico algumas vezes no mesmo mês, pois o nódulo parecia estar crescendo e ficando mais endurecido. Mas, infelizmente, fui negligenciada. Ele dizia que eu não precisava me preocupar, que era apenas um cisto e que o fato de minha mãe e tia terem tido câncer não significava que eu também teria. Ele achava que era psicológico e menosprezou minha preocupação. Disse que, se o cisto crescesse a ponto de me incomodar mais, ele drenaria. Saí do consultório envergonhada por ter insistido tanto e tentei acalmar meu coração, seguindo o que ele havia dito: esperei o nódulo crescer. Comecei até a pensar que talvez fosse mesmo coisa da minha cabeça.
No dia 16/08/2022, fiz por conta própria uma ultrassonografia das mamas e axilas. Na hora do exame, a médica mudou o semblante e pediu que eu fosse imediatamente ao consultório do meu médico para que ele solicitasse uma ressonância de mama e uma biópsia com urgência. Perguntei: “Doutora, é câncer, né?” Ela tentou me tranquilizar e disse que só poderíamos afirmar com o resultado da biópsia, mas no fundo, eu já sabia.
Fui direto ao consultório do médico e, mesmo com a agenda lotada, insisti para ser atendida. Ao entrar na sala, disse: “Doutor, sabe aquele cisto pequeno que o senhor pediu para eu esperar crescer? Pois bem, virou um câncer.” Ele ficou surpreso, pediu calma e decidiu me examinar. Ao levantar minha blusa, seu olhar mostrou espanto. O nódulo havia crescido bastante e endurecido. De imediato, ele solicitou uma ressonância e uma biópsia. Chorando, desabafei: “Doutor, só quero os pedidos, e que o senhor aprenda a lição, para que outros pacientes não passem pelo que estou passando agora. Nunca menospreze um pedido de socorro de um paciente que confia em você.” Peguei os pedidos e saí.
A partir daí, pedi desculpas ao meu corpo por não ter agido mais rápido, já que os sinais estavam ali. Veio o medo da morte, a angústia e a tristeza. Mas decidi que não seria vencida e que minha vontade de viver coincidiria com a de Deus. Eu iria lutar com todas as minhas forças para vencer.
Ao voltar para casa, lembrei de uma grande amiga, Mayerli Araújo, que estava em tratamento contra o câncer de mama e já havia vencido algumas batalhas. Liguei para ela e, ao saber de tudo, ela prontamente me acolheu e me disse: “Amiga, pelo que você descreveu, realmente parece câncer. Mas agora vamos resolver isso.” Mayerli me recomendou a clínica Pronutrir, onde ela fazia seu tratamento, e me ajudou a marcar consultas com a Dra. Virgínia (oncologista) e o Dr. Paulo Aguiar (mastologista).
No dia 25/08/2022, veio o diagnóstico: carcinoma invasivo tipo não especial, grau III (HER2/neu, escore 3+), na mama esquerda. Embora eu já soubesse, ainda mantinha a esperança de que não fosse câncer. Quando recebi o resultado online, estava com meu esposo. Pedi para irmos para casa imediatamente e, no caminho, disse: “Já sabíamos, né?” Ele, com os olhos cheios de lágrimas, perguntou o que faríamos a seguir. Prometeu que estaria ao meu lado em todo o processo e que essa jornada seria nossa, da família, e que venceríamos juntos.
Contar para meus filhos foi a parte mais difícil. O medo de deixá-los sem mim era inexplicável. Mas eles foram firmes e disseram: “Mãe, estamos com a senhora. Vamos vencer juntos.”
Assim começou minha caminhada dentro da Pronutrir. Fui acolhida por profissionais como a Dra. Virgínia e o Dr. Paulo Aguiar, que, com muito carinho e humanidade, me explicaram o tratamento e encheram nossos corações de esperança. Iniciei a quimioterapia no dia 20/09/2022, cercada pelo cuidado e amor de todos.
Passei por 6 ciclos de quimioterapia, mastectomia bilateral, 15 sessões de radioterapia e reconstrução das mamas. Hoje, dizem que estou em remissão. Eu digo: estou curada.
A todos que fizeram parte da minha rede de apoio, meu muito obrigado! Minha história está sendo contada porque vocês fizeram parte dela.
“Meu resultado é, em primeiro lugar, um presente de Deus, e o somatório de vários esforços: médicos, eu, minha família e amigos.”
Vamos viver!